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ToggleA expansão das apostas online no Brasil já está alterando prioridades financeiras e a educação pode estar perdendo espaço para o jogo.
Entendendo a nova competição pelo bolso
A matrícula estava quase certa. Lead qualificado, conversa fluindo, condição ajustada. Mas na hora de fechar, vem o travamento.
“Vou esperar mais um pouco.”
“Preciso organizar as finanças.”
Ou, nos casos mais transparentes:
“Me enrolei com umas apostas aí…”
Parece caso isolado. Mas não é.
A verdade é que, enquanto as instituições de ensino tentam entender por que a conversão caiu mesmo com lead chegando, um novo concorrente silencioso já entrou no jogo: as plataformas de aposta.
O boom das apostas no Brasil
Nos últimos anos, o volume movimentado por plataformas de apostas disparou:
- Mais de 2 mil empresas do setor foram abertas até setembro de 2023, movimentando cerca de R$ 100 bilhões no país.
- Estima-se que mais de 50 milhões de brasileiros já apostaram alguma vez online um terço da população.
- Segundo o Banco Central, o avanço das bets está diretamente ligado ao aumento da inadimplência nas classes C, D e E.
Com regulamentação em curso, casas de aposta estão em todos os lugares: nas redes sociais, nas transmissões esportivas, nas conversas de bar e, agora, nas objeções comerciais de quem deveria estar investindo em educação.
Quando o impacto não é só no aluno, é em quem paga!
Nem sempre é o aluno que aposta.
Muitas vezes, o responsável é quem compromete o orçamento: pais, avós, maridos, esposas. E quando chega a hora da matrícula, a resposta vem no piloto automático:
- “Esse mês ficou apertado.”
- “Estamos esperando virar o cartão.”
- “Entrou uma emergência aqui, vou ter que deixar pra depois.”
Só que essa “emergência” muitas vezes tem nome, cor e vinheta de aplicativo.
E o mais preocupante: isso não aparece nos dashboards. É uma perda invisível, mas frequente.
A educação está perdendo para o imediatismo
A aposta vende um sonho rápido.
A educação exige um plano lento.
Enquanto as bets oferecem retorno instantâneo, sensação de controle e recompensa imediata, a jornada educacional trabalha com construção, paciência e esforço.
É uma disputa desigual na cabeça de quem está emocionalmente fragilizado.
E não estamos falando apenas de jovens.
O público de apostas vai dos 16 aos 65, e atinge todos os perfis.
Ou seja: qualquer lead pode estar tomando decisões influenciado por esse comportamento, mesmo que você nunca ouça isso diretamente.
Os dados que o setor educacional precisa ver
Segundo uma pesquisa recente da ABMES com a Educa Insights:
- 34% dos jovens entre 18 e 35 anos adiaram a entrada no ensino superior privado em 2025 por dificuldades financeiras ligadas a apostas.
- Entre os jovens de classes mais baixas, esse número sobe para 41%.
- Cerca de 986 mil potenciais universitários ficaram de fora só em 2025 e um dos motivos silenciosos foi o crescimento do vício em jogos online.
São quase 1 milhão de matrículas perdidas, na maioria, para promessas falsas de enriquecimento.
Isso não é só um problema social. É um desafio de gestão.
As apostas se tornaram parte do comportamento de consumo de uma fatia significativa da população brasileira. E qualquer setor que dependa de decisão financeira direta, como o educacional, precisa entender o impacto disso.
Esse não é um post moralista.
É um alerta.
A verdade é que hoje, a matrícula concorre com o boleto, com o pix da semana… e com a roleta digital que promete retorno com dois toques na tela.
Se você ignora esse novo comportamento, está jogando no escuro.
O que a escola ou faculdade pode fazer quando os jogos começam a disputar as matrículas?
Não dá pra fingir que o problema não existe. Também não dá pra resolver com discurso motivacional. O que dá pra fazer é ajustar como a instituição se posiciona comercialmente diante dessa nova realidade.
Não é sobre combater as apostas. É sobre disputar atenção e prioridade com elas.
E isso exige três coisas:
1 – Escuta ativa sem tabu
Na hora do atendimento, muitos leads vão dizer que “o dinheiro tá curto”, que “vão esperar virar o mês”, que “precisam ver com a esposa, o pai, o marido”. Você já ouviu isso mil vezes. Mas quando a frequência aumenta, vale parar e escutar de verdade.
Sem julgamento. Sem achismo.
Às vezes, só perguntar com mais profundidade já abre uma janela de realidade que pode ser usada com inteligência no discurso.
2 – Discurso que gera peso, não só urgência
Aposte menos em “última chance” e mais em “o que essa decisão representa”. O aluno (ou o responsável) precisa sentir que essa matrícula tem peso, que vai mudar alguma coisa de verdade. Porque do outro lado, a promessa da aposta é exatamente essa: mudar de vida com R$ 20.
Se você não mostrar valor real, a ficha vai cair no lugar errado.
3 – Marca que educa, não só anuncia
Você quer gerar matrícula. Mas se não gerar consciência antes, vai continuar pescando em água rasa.
Conteúdos que falam sobre decisão financeira, escolha de futuro, mudança de vida… precisam voltar pro centro da comunicação.
Sim, é mais difícil. Sim, dá mais trabalho. Mas no cenário de hoje, ou você constrói prioridade na cabeça do lead, ou alguém vai ocupar esse espaço primeiro.
Conclusão
As apostas online deixaram de ser passatempo. Viraram hábitos. E, em muitos casos, vício.
E como todo vício, geram consequência em cadeia.
Quando uma matrícula deixa de acontecer, é raramente por um único motivo. Mas hoje, em muitos casos, o estopim da desistência está na bolinha girando na tela.
Ou o setor educacional começa a enxergar isso com clareza e a se posicionar com mais inteligência ou vai continuar perdendo matrícula pra uma ilusão com estética de oportunidade.
Na Inspire+, a gente observa essas mudanças de comportamento com lupa.
Não é sobre fazer alarde. É sobre entender o jogo e ajustar a estratégia.
Se sua instituição está sentindo essa mudança e precisa de apoio pra virar o jogo, a gente pode conversar.
Porque o que está em jogo não é só a matrícula. É o futuro.